Moradora de Curitiba há mais de três décadas, a aposentada carioca Luiza Santos, de 72 anos, faz parte da nova geração de idosos do país, que leva uma vida conectada à internet. A forte ligação com o universo online começou há cerca de sete anos com uma plataforma de compartilhamento de vídeos, acompanhando vlogueiras brasileiras de moda e beleza.

“Nem era para minha faixa, mas me influenciaram. Hoje uso itens de maquiagem que conheci por meio de muitas delas e ainda influenciei as filhas”, conta. O foco nos últimos três anos tem sido os vlogs de brasileiros que vivem no exterior e de gringos que moram no Brasil, além de aulas de inglês e jogos para exercitar o cérebro.

A idosa Luiza Santos, 72, é adepta das compras online e do uso de aplicativo de mensagens para se conectar com a família e os amigos (foto: Arquivo Pessoal)

Outra paixão é a das compras online. Presentes para os netos, eletroeletrônicos, tapetes, poltrona e cama já foram entregues na casa de Luiza, vindos de várias partes do país e do mundo. E, diariamente, ela está em conversas em aplicativo de mensagens. Durante a pandemia, aderiu às vídeo-chamadas, para se comunicar e matar as saudades dos filhos, netos e amigas que moram no Rio de Janeiro.

A aposentada representa a nova geração de maduros, como são chamados os idosos pela pesquisadora Layla Vallias. Ela é co-fundadora do Hype60+, consultoria de marketing especializada no consumidor sênior, e da Janno, startup de planejamento de fim da vida.

A jovem profissional promoveu um estudo inédito, o maior já realizado no país sobre hábitos de consumo e comportamento a partir dessa faixa etária, com 2,5 mil pessoas, que apontou três grandes características. E o idoso digital é uma delas, destaca Layla.

“Essa geração é tão diferente de gerações anteriores de idosos por conta da internet. Eles usam os aplicativos de troca de mensagens como uma janela para o mundo. É uma ferramenta incrível. Se vivêssemos esta pandemia em outro momento, sem estes recursos, teríamos um problema grande de solidão e depressão dos maduros”, diz.

Assista ao TEDx apresentado pela pesquisadora Layla Vallias sobre a nova geração de idosos

Segundo a consultora, os idosos são o público que mais cresce em vários tipos de ferramentas. Durante o isolamento social, houve uma grande inserção das pessoas maduras em redes sociais de compartilhamentos de fotos, vídeos, mensagens e links. E passaram a navegar em outros ambientes digitais que não eram tão usados por eles, como aplicativos de reunião e de entrega de comida, supermercado e farmácia.

“O isolamento social acelerou ainda mais o comportamento deles, que já eram digitais, mas ainda em alguns ambientes não navegavam.”

A pesquisa apontou ainda para uma geração carpe diem, que vive o hoje intensamente, e que deseja movimento, fisicamente, mentalmente e cognitivamente ativos.

“O termo aposentado vem de aposento, com a ideia de as pessoas ficarem em casa após pararem de trabalhar. Vemos isso em um público mais velho, a partir dos 80. Até esta faixa de 60 eles fazem muita atividade, como sair para fazer compras, ir ao banco, cuidar de netos ou dos pais muito idosos, ou ainda trabalhando como autônomos para terem uma renda extra.”

Momento de adaptação

As empresas que oferecem produtos e serviços a este nicho percebem esse movimento e buscam inovar e treinar equipes para se adaptarem ao novo idoso.

A Ortopedia Brasil, de Maringá, comercializa produtos voltados para mobilidade, vida segura e bem-estar há 23 anos, e percebe que eles preferem o atendimento via aplicativo de mensagens. “Querem, porque facilita para eles”, afirma a diretora de marketing e co-fundadora, Patrícia Alcure.

Em 2030, os idosos 60+ serão responsáveis por 30,6% do consumo de bens e serviços. (foto: Freepik)

As equipes da empresa são orientadas a trocar áudios, por ser um modo mais fácil de comunicação. “É um público que busca muito a internet e está muito conectado. Temos que estar presentes, porém adaptando toda uma linguagem”, diz.

Além de estarem antenados e extremamente informados, Patrícia destaca a riqueza de conhecimento desse público.

“Não são somente eles que aprendem com a gente, mas aprendemos muito com eles, com suas histórias de vida e lições, e isso não tem preço.”

Condomínio projetado para idosos

O crescimento da população madura também chama a atenção do poder público. Neste Dia do Idoso (1º de outubro) está sendo inaugurado o primeiro condomínio exclusivo, do programa Viver Mais Paraná, projeto da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). Os primeiros contemplados são os idosos de Jaguariaíva, na região dos Campos Gerais.

Projeto em 3D do condomínio para os idosos, do programa Viver Mais Paraná.

O próximo será inaugurado em Foz do Iguaçu, no Oeste, até o final de 2020. Para o ano que vem, os municípios contemplados serão Irati, Telêmaco Borba, Cornélio Procópio e Prudentópolis. O presidente da Cohapar, Jorge Lange, conta que cada condomínio tem 40 unidades e cada uma abriga até duas pessoas.

“Os imóveis têm ventilação cruzada, para um ambiente mais arejado, piso antiderrapante, barras de apoio nos banheiros, portas mais largas, para o caso de ter de passar com cadeira de rodas”, afirma Lange.

Tomadas em altura mais elevada, botão de pânico, piscina térmica para hidroginástica, academia ao ar livre e horta comunitária, além de atendimento médico e de assistente social periódicos também fazem parte do projeto.

Por mais idosos na publicidade

Não somente o Brasil, mas o mundo ainda está começando a olhar para as pessoas com mais de 60 anos e as trazendo para a publicidade. Acontece muito lentamente, mas acontece. Podemos ver a dona Neusa em um recente comercial do iFood ou a simpática dupla do comercial do Itaú.

E o que dizer do super bem-humorado ator curitibano Ary Fontoura, que se encontrou como influenciador digital aos 87 anos, e se transformou em um “muso” da internet, chamando a atenção de grandes marcas?

https://www.instagram.com/p/CFfjfn3Bl2R/?utm_source=ig_web_copy_link

“Estamos em um processo ainda incipiente de mudança de mindset em relação a isso”, avalia Layla. De uma forma geral, segundo ela, ainda vemos dois estereótipos muito fortes: uma maturidade frágil e preconceito etário, com conceito de que todos querem voltar a ser jovens. “E isso não é real”, diz.

A dona Luiza, que mostramos anteriormente, revela que sente-se representada na atual publicidade, que mostra um idoso mais real, porém, ainda muito pouco.

“As pessoas com mais de 60 anos buscam, muitas vezes, pelos mesmos produtos e serviços que jovens de 30, mas muitos ainda enxergam a longevidade com olhos ultrapassados e esquecem do nosso poder como consumidores.”

A dona Neusa representa os 90+, como ela faz questão de ressaltar, na propaganda do aplicativo de entrega de comida

Essa força aparece no estudo da consultoria SeniorLab, que apontou que, em 2030, os 60+ serão responsáveis por 30,6% do consumo de bens e serviços. Ou seja, em um período de apenas mais uma década, mais de um terço de todo o faturamento das empresas destes segmentos será proveniente das compras feitas pela população mais madura, principalmente por e-commerce.

Os idosos, conforme estudo da empresa de inteligência de mercado com foco em e-commerce Compre&Confie, foram responsáveis por 2,2 milhões de pedidos de compras online no segundo trimestre de 2019, representando 5,7% do total realizado no período.

Dados da pesquisa apontam que as cinco categorias que concentram os maiores índices de consumo são:

Entretenimento – 15%
Beleza, perfumaria e saúde – 14%
Informática e câmeras – 12%
Telefonia – 11%
Artigos para casa – 11%

Por onde anda o idoso do Paraná?

Em 2020, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de cidadãos com mais de 60 anos vivendo no Paraná deverá crescer 4%. Com isso, a quantidade desses idosos atingirá a marca de 1.781.813 pessoas, o equivalente a 15% da população do estado.

O Paraná é o quinto estado brasileiro com o maior número de idosos, atrás de Rio de Janeiro (19,3%), Rio Grande do Sul (19,0%), São Paulo (16,7%) e Minas Gerais (16,4%). A projeção populacional do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) para o estado, em 2020, mostra que 83 dos 399 municípios têm mais de 20% de idosos.

A maioria dessas cidades é de pequeno porte, com menos de 10 mil habitantes. Entre os grandes centros do estado (mais de 40 mil moradores) com maior proporção de idosos estão:

Cornélio Procópio (20,7%)
Paranavaí e Londrina (17,9%)
Umuarama e Maringá (17,2%)
Apucarana e Ibiporã (16,9%)
Cambé (16,6%)
Marechal Cândido Rondon (16,5%)
Curitiba (16,4%)
Campo Mourão e Rolândia (16%)

Busca informações, oportunidades, insights e soluções de comunicação no Paraná?
Fale com a gente ou escreva para mktcomunicacao@rpc.com.br

O crescimento da população de pessoas com mais de 60 anos de idade e a pandemia do novo coronavírus trouxeram este público de idosos para os holofotes