Empresas familiares representam 90% dos empreendimentos brasileiros. No entanto, segundo dados do Sebrae, 67% não conseguem chegar à segunda geração e apenas 5% sobrevivem à terceira. Os maiores desafios das marcas que nascem em ambiente familiar são a administração de conflitos internos de liderança e a dificuldade em criar planos de crescimento a longo prazo, que incluam a capacitação das novas gerações para cargos de gestão.
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As que permanecem no mercado por longos anos são aquelas que transmitem um conjunto de conhecimentos, encontram estratégias para solucionar conflitos de interesse e se unem movidas por uma paixão em comum: o negócio que dividem. Para Rubens Negrão, consultor do Sebrae, as empresas familiares têm mais chances de prosperar justamente pela confiança que os envolvidos depositam uns nos outros e, principalmente, por colocarem a empresa acima de suas prioridades pessoais, transferindo de pai para filho o sonho de ver o negócio crescer.
Pais e filhos: gerações que se unem
Edson Marochi tinha 14 anos quando começou a trabalhar com o pai. Um dos herdeiros da Móveis Campo Largo, fundada em 1961 por seu pai Luiz e seu tio Carlito Marochi, Edson já atuou na empresa como auxiliar de escritório, passando pela contabilidade e serviço de entrega, entre outros cargos de base, para depois de muito estudo e envolvimento com a marca se tornar o diretor, em 1999.
“Não me tornei diretor por ter sido delegado ao cargo, por ser herdeiro. Gradativamente, conquistei esse espaço com suor e responsabilidade, acompanhando o negócio e dando valor ao sacrifício não só meu, mas de todos os colaboradores e principalmente da minha família. Para que a Móveis Campo Largo crescesse foi preciso conciliar a ampliação da empresa com as mudanças de geração, com a evolução do negócio. Eu e meu pai sempre tivemos muita cumplicidade e confiança um no outro. Mas nem por isso fui poupado do trabalho pesado”, explica Edson.
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Agora a segunda geração já prepara os netos dos fundadores para que no futuro assumam a marca e deem sequência ao crescimento do empreendimento.“Meu filho começou a trabalhar conosco aos 17 anos, seguindo a mesma lógica: iniciando pela base. Hoje, com 10 anos de casa e depois de se profissionalizar, se envolver com a empresa, tornou-se gerente comercial. Sempre tentei passar ao Felipe que o mais importante era ter respeito pelas pessoas e colaboradores, ser apaixonado pelo o que faz e fazer com responsabilidade. Da mesma forma que meu pai confiou em mim, prezo muito pela minha relação com meu filho”, afirma Marochi.
Profissionalizar as gerações seguintes
De acordo com a pesquisa da Price Waterhouse (PwC) realizada em 2014, 82% dos empresários brasileiros estão preocupados com a gestão familiar em seus negócios. Além disso, a pesquisa revela que 79% das corporações familiares tiveram crescimento positivo nos últimos cinco anos. Segundo Carlos Beal, um dos cinco herdeiros do Supermercado Festval e diretor do grupo, o sucesso da marca se deu pela forma com que seu pai, Severino, engajou ele e seus irmãos, delegando responsabilidades e confiando no potencial dos filhos.
“Meu pai foi muito sábio. Aos poucos, ele foi deixando a empresa comigo e meus irmãos, se afastando da gerência por reconhecer nosso esforço. Ele nos deixou uma lição valiosa: para ter dignidade é preciso ter crédito e caráter. Ensinou-nos a não dar um passo maior que a perna, a zelar pelo nosso nome. É o que eu e meus irmãos passamos aos nossos filhos, que, gradualmente, estão assumindo os negócios”, afirma Beal.
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Os herdeiros da empresa, de acordo com Beal, procuraram se profissionalizar para ajudar a gerir o empreendimento com qualificação. São sobrinhos e filhos que, em diferentes áreas do negócio, vão encontrando espaço para dar suporte à empresa e continuidade ao projeto que começou em 1972, com os avós. “Minha filha Carla se formou em engenharia de produção. Desde criança ela já sonhava em fazer parte da empresa. Laiane é psicóloga e cuida da parte do RH, mas sei que o sonho dela é voar para outros lugares. O mais importante é que todos sejam felizes e façam o que sonham, com dedicação”, afirma Beal.
As empresas familiares encontram um diferencial competitivo único, já que têm a possibilidade de crescer e se manter no mercado por mais tempo do que outros empreendimentos. Para o consultor do Sebrae, Rubens Negrão, se as diferenças e conflitos de gestão são superados e há a criação de planos estratégicos de crescimento, deixando claro o lugar de cada familiar na administração da empresa, o sucesso é certo. “Não é à toa que 90% das empresas no Brasil começam em um núcleo familiar. O importante é que todos tenham claro o que querem e sejam apaixonados pela empresa”, finaliza Negrão.

DeOlhoNoMercado, o blog da RPC, Afiliada Globo. Entrevistas e matérias sobre mercado, setores, boas práticas, tendências, comportamento e consumo no Paraná.

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